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laços de família: clássico que segue vivo 25 anos depois

Foto do escritor: Renan Araújo Renan Araújo


Poucas novelas conseguem atravessar o tempo e permanecer tão marcantes quanto Laços de Família. Exibida originalmente entre 2000 e 2001, a trama de Manoel Carlos conquistou o público com sua abordagem sensível sobre relações familiares, amores impossíveis e sacrifícios que testam os limites dos personagens.


Com atuações memoráveis, cenas icônicas e diálogos que fugiam do óbvio, Laços de Família foi um verdadeiro fenômeno. Mas o que fez dessa novela um clássico? Quais são seus méritos e também seus pontos frágeis? Neste texto de opinião, vamos explorar a obra, o estilo do autor e os aspectos que tornam essa história tão inesquecível.


Manoel Carlos e sua assinatura inconfundível


Falar de Laços de Família é falar de Manoel Carlos, um dos maiores nomes da teledramaturgia brasileira. Com um estilo muito particular, ele se tornou um cronista da elite carioca, ambientando praticamente todas as suas novelas no Leblon e criando tramas que, apesar de lidarem com grandes dramas, sempre traziam um tom realista e intimista. Seus personagens conversavam longamente sobre a vida, o amor e as dificuldades do dia a dia, tornando suas histórias envolventes sem precisar de grandes vilões ou reviravoltas exageradas.


Outro traço marcante de Maneco — como é carinhosamente chamado — é a presença constante de uma protagonista chamada Helena. A escolha do nome, curiosamente, não tem nenhuma relação com a vida pessoal do autor. Em diversas entrevistas, ele revelou que nunca teve uma Helena em sua família ou círculo social, mas que se apegou a esse nome por influência da mítica Helena de Troia. Assim, cada nova novela trazia uma Helena diferente, mas sempre forte, complexa e carismática.


A ideia para Laços de Família surgiu de uma notícia real. Maneco leu no jornal sobre uma mulher nos Estados Unidos que engravidou propositalmente para tentar salvar sua filha doente, e essa história tocou fundo no autor. Ele transformou essa premissa em uma novela emocionante, que abordava até onde uma mãe seria capaz de ir para

salvar a vida de um filho.


A trama e seus momentos inesquecíveis


O enredo de Laços de Família parte de um triângulo amoroso delicado e controverso. Helena (Vera Fischer) vive um romance com Edu (Reynaldo Gianecchini), um médico recém-formado, muito mais jovem que ela. Tudo muda quando Camila (Carolina Dieckmann), filha de Helena, se apaixona por Edu e passa a disputar o amor dele com a própria mãe. A relação entre mãe e filha, que antes era de cumplicidade, se transforma em um misto de ressentimento, culpa e sofrimento.


No entanto, esse conflito amoroso logo se torna pequeno diante de um problema muito maior: Camila é diagnosticada com leucemia e precisa de um transplante de medula óssea. O drama atinge seu ápice quando Helena, em um gesto extremo de amor e sacrifício, decide engravidar na esperança de que o novo bebê seja compatível para salvar a irmã.


Além da trama principal, a novela trouxe outros núcleos marcantes. Íris (Deborah Secco), meia-irmã de Helena, foi uma das personagens mais intensas da história. Mimada, intempestiva e cruel, ela protagonizou momentos de grande tensão, como quando chamou Camila de “Judas”, em uma cena que entrou para a história da TV.


Também tivemos Capitu (Giovanna Antonelli), jovem de classe média que se prostituía para sustentar o filho e os pais, enfrentando o preconceito da sociedade.

Outro aspecto memorável foi o merchan social, algo comum nas novelas de Manoel Carlos. O drama de Camila impulsionou uma campanha nacional de doação de medula óssea, aumentando consideravelmente o número de doadores no Brasil.


Os pontos positivos: diálogos, atuações e cenas memoráveis


Se hoje as novelas têm um ritmo mais ágil e dinâmico, Laços de Família nos lembra que há algo de especial em histórias que dão espaço para diálogos longos e bem construídos. Um dos maiores méritos da novela foi justamente essa característica, permitindo que as relações entre os personagens fossem aprofundadas com riqueza de detalhes.


Os diálogos entre Ingrid (Lilia Cabral) e Aléssio (Fernando Torres) são um exemplo disso. Marido e mulher tinham conversas emocionantes sobre a vida e o passado, e a morte de Aléssio foi uma das cenas mais bonitas da novela. A espiritualidade também foi tratada de maneira delicada, como no momento em que Íris vê seus pais já falecidos cavalgando no haras — uma cena sensível, sem exageros ou tom caricato.


Outro grande destaque foi a atuação de Marieta Severo como Alma, uma personagem cheia de nuances. Alma era preconceituosa, controladora e, muitas vezes, cruel, mas nunca caía na caricatura. Suas cenas com Helena foram marcantes, principalmente quando ela rejeita a doença de Camila e, em outro momento, se recusa a abraçar a personagem de Vera Fischer, preferindo um aperto de mão para que pudessem se encarar “olho no olho” — um exemplo da riqueza dos diálogos de Manoel Carlos.


A novela também soube captar a beleza de cenas simples. Quem se lembra de Helena caminhando sozinha na chuva pelo Leblon, após terminar com Edu? Pequenos detalhes como esse reforçavam a sensibilidade da trama.


E, claro, não podemos esquecer os momentos que se tornaram memes inesquecíveis, como “Cafézinho, dona Helena?”, “Não vou trabalhar na clínica hoje” e “Desmarca a consulta!”. Mesmo após 25 anos, a novela segue sendo lembrada com carinho — e bom humor — pelo público.


Os pontos negativos: a falta de diversidade e o elitismo


Apesar de todos os acertos, Laços de Família não está isenta de críticas. A novela, como tantas outras de Manoel Carlos, tinha um elenco majoritariamente branco e uma representação limitada de personagens negros.


O elitismo também era evidente. Helena, por exemplo, tinha uma relação com sua empregada, Zilda, que reforçava a visão tradicional da patroa rica e da empregada submissa. No entanto, a atriz Thalma de Freitas, que interpretou Zilda, destacou em entrevistas que essa foi uma grande oportunidade para ela, pois, na época, as empregadas domésticas nas novelas costumavam ser apenas figurantes sem história própria.


um clássico que continua vivo


Mesmo com algumas falhas, Laços de Família continua sendo uma novela irresistível. Seu sucesso em todas as suas três exibições na TV aberta prova sua força atemporal. Com uma trilha sonora impecável, uma abertura nostálgica e diálogos inteligentes, a novela emocionou gerações e segue relevante até hoje.


Seja para rir dos memes, se emocionar com as cenas intensas ou simplesmente relembrar um tempo em que as novelas eram diferentes, Laços de Família é o tipo de história que nunca envelhece.

 
 
 

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