
Mania de Você, de João Emanuel Carneiro, começou com grandes promessas, impulsionada por chamadas bem feitas e caprichadas que criaram uma expectativa positiva. Com uma proposta de movimento, a novela parecia oferecer algo mais dinâmico em relação a Renascer, que muitos consideraram lenta e sem ritmo. As imagens eram visualmente atraentes, o que despertou uma sensação de que algo estava realmente acontecendo. No entanto, logo ficou claro que a trama não tinha um norte claro. Além de um enredo que parecia mudar constantemente de direção, a pergunta que pairava no ar era: qual era a verdadeira história? O jogo de personagens e acontecimentos parecia uma constante reinvenção, mas sem um propósito definido. O que começou com uma aparência de movimento e promessas de algo novo se transformou em uma trama confusa e sem sentido, que deixou muitos espectadores desconcertados.
Um dos maiores erros dessa novela foi a escolha dos protagonistas. Gabz até tem talento, mas definitivamente não deveria ter sido escalada para um papel de destaque no horário nobre. Antigamente, as escolhas para novelas das 21h eram muito mais criteriosas, com atores experientes que dominavam as nuances de personagens complexos. A impressão que fica é de que, ao invés de buscar um grande nome, a Globo optou por uma solução econômica, apostando apenas nos contratos fixos de atores que não conseguiam entregar a intensidade necessária. Gabz não conseguiu conquistar o público; faltou-lhe carisma, o que tornou até as cenas mais dramáticas insuportáveis. Sua falta de entonação em momentos importantes da trama, sempre muito exaltada ou exagerada, impossibilitou qualquer tipo de envolvimento. Claro, a história também não ajudava, mas isso não justifica o fato de que a protagonista não conseguiu transmitir nenhuma empatia, tornando-a uma personagem sem torcida.
Talvez ela mereça outra chance, mas em papéis menores, para amadurecer e desenvolver seu talento, e quem sabe, daqui a alguns anos, dar a volta por cima.
A história central da novela não fez mais sentido do que os protagonistas. Rudá, que ama Viola, que é amada por Mavi, que já teve um crush em Luma, que por sua vez foi apaixonada por Rudá, soa como um enredo que poderia muito bem estar em Sangue Bom ou Malhação. Mas o que João Emanuel Carneiro estava pensando ao criar uma trama em que a protagonista toma o namorado da melhor amiga, a mesma amiga que a apoiou desde o início? Essa construção foi um erro grave! Como se cria uma história onde nenhum dos protagonistas tem torcida? Isso não faz sentido, e a consequência disso foi a morte de Rudá, que, para a maioria, foi irrelevante, pois ninguém estava realmente investindo emocionalmente na trama. A tentativa de criar um romance entre os protagonistas falhou, pois, além da falta de identificação com os personagens, o enredo não conseguiu sustentar nenhuma emoção genuína.
Em relação aos núcleos secundários, mais uma vez, Carneiro peca. Em Todas as Flores, por mais que o tempo de tela tenha sido curto, o núcleo de Douglas Silva foi insuportável de acompanhar. Em Mania de Você, a história de Berta e Isis até tinha algum potencial. Se tivesse sido mais bem desenvolvida, poderia ter se tornado a história central da novela, com personagens mais fortes e uma vilã alpinista social capaz de impactar o público. Mas, como sempre, o pouco tempo de tela e a falta de foco no desenvolvimento dos personagens tornaram esse núcleo apenas um eco distante do que poderia ser uma trama rica e envolvente. Mesmo com a história intrigante de Berta, que poderia ser trabalhada de forma mais intensa, nada disso foi aproveitado, e a trama acabou se perdendo no decorrer da novela. O que se viu foi uma história apagada, sem o devido desenvolvimento, que perdeu a chance de conquistar a audiência.
João Emanuel Carneiro precisa parar de tentar repetir o sucesso de Avenida Brasil. A obsessão de criar novas versões de Carminha com personagens como Mércia, vivida por Adriana Esteves, é um erro colossal. Não faz sentido insistir em colocar Esteves como vilã, tentando reviver um fenômeno que, vamos ser sinceros, já ficou para trás. A insistência nesse tipo de personagem só mostra a falta de criatividade e a dificuldade de Carneiro em se reinventar. A história de Mércia não faz sentido algum, e a construção da vilã aqui foi completamente forçada, como se a trama estivesse desesperada para encontrar algo que se igualasse ao impacto de Carminha. Agora, e se a história central fosse uma mulher batalhadora, vivida por Adriana Esteves, que sempre teve Berta como aliada, mas que, com a chegada de Isis, se viu traída? Um enredo bem mais interessante, ainda que clichê, que teria ao menos um fio condutor mais claro do que a bagunça apresentada. Carneiro se perdeu ao tentar forçar algo que, no fundo, nunca teria o mesmo impacto.
A trama de Molina, fingindo-se de morta por mais de 10 anos, é outra falha gritante. O que realmente justificava essa história? Não havia motivo para Molina adotar essa estratégia absurda e ainda por cima permitir que Mavi, com sua ação egoísta, tomasse tudo de Luma. Quando Mavi rouba tudo de Luma, nem Molina nem Mércia estavam envolvidos de forma significativa, então qual era a razão de tanto drama e reviravolta sem nexo? A sensação que fica é que não houve planejamento algum para essa novela. As pontas soltas são tantas e tão incoerentes que o público mais atento só consegue sentir frustração. Como é possível não pensar nas consequências das ações dos personagens? Como não ter um mínimo de estrutura para conectar as tramas de forma que se sustentem? Mania de Você é a prova de que a falta de planejamento é fatal para qualquer história.
Em relação à atuação de Chay Suede, é importante dar o crédito onde é devido: ele realmente se destacou em seu papel. No entanto, as cenas em que ele se tornou o centro das atenções acabaram se tornando repetitivas e cansativas. Elas pareciam feitas para gerar cortadinhos e clipes para as redes sociais, e não para contribuir de forma relevante para o enredo. A novela se perdeu no formato, apostando em cenas que só funcionavam como iscas para viralizar, mas que não ajudavam em nada na construção de uma trama sólida e envolvente. Se a intenção era criar momentos impactantes, acabou se tornando uma experiência superficial, sem consistência. Ao tentar apelar para o formato de redes sociais, perdeu-se a essência da narrativa, e o que deveria ser um drama de qualidade se transformou em um desfile de cenas que não conectavam com a audiência de forma mais profunda.
Por fim, Mania de Você comete o erro clássico que a Globo insiste em repetir: tentar fazer uma novela com "cara de série". Isso não funciona, e Beleza Fatal está aí para provar. Novela é novela, e série é série. São formatos diferentes, com propósitos diferentes, e insistir em misturar as coisas não dá certo. Mania de Você tentou ser uma série, com narrativa fragmentada e cenas que mais pareciam seções isoladas do que uma trama contínua. O problema é que foi uma péssima série e, ao mesmo tempo, uma péssima novela. Em vez de abraçar as características que fazem uma novela ser o que ela é, Carneiro tentou criar algo que não se encaixa, resultando em uma obra que não agrada nem aos fãs de novela nem aos fãs de séries. Quando a Globo vai aprender que o público quer uma novela com a "cara de novela"? Um formato consistente, com uma história bem construída e personagens cativantes. Não é tão difícil, mas Mania de Você mostra que, quando se tenta ser tudo ao mesmo tempo, o resultado é uma obra inconstante e sem alma.
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